quinta-feira, 25 de agosto de 2016

VERONICA ROTH - INSURGENTE



VERONICA ROTH - INSURGENTE

Uma escolha poderá destruir tudo!
Mais uma inebriante e emocionante história, repleta de reviravoltas, corações partidos, romance e poderosas revelações sobre a natureza humana. Na Chicago futurista criada por Veronica Roth em Divergente, as facções estão desmoronando. E Beatrice Prior tem que arcar com as consequências de suas escolhas.
Em Insurgente, segundo volume da bem-sucedida série de distopia que conquistou os fãs de Jogos Vorazes e alcançou o primeiro lugar na disputada lista dos mais vendidos do The New York Times, a jovem Tris tenta salvar aqueles que ama e a própria vida enquanto lida com questões como mágoa e perdão, identidade e lealdade, política e amor.(SUBMARINO)
LEIA O PRIMEIRO CAPÍTULO






Acordo com o nome dele na boca. Will.
Antes de abrir os olhos, vejo-o desabar sobre o asfalto novamente. Morto.
Pelas minhas mãos.
Tobias se agacha na minha frente, apoiando a mão sobre meu ombro esquerdo. O vagão do trem chacoalha sobre os trilhos, e Marcus, Peter e Caleb estão de pé ao lado da porta. Respiro fundo e prendo o ar, tentando aliviar parte da pressão acumulada em meu peito.
Uma hora atrás, nada do que aconteceu me parecia real. Mas agora parece.
Solto a respiração, mas a pressão continua.
– Tris, vamos – diz Tobias, encarando os meus olhos. – Precisamos pular.
Está escuro demais para ver onde estamos, mas, se vamos saltar do trem, devemos estar perto da cerca. Tobias me ajuda a levantar e me guia em direção à porta.
Os outros saltam, um de cada vez: primeiro Peter, depois Marcus e, em seguida, Caleb. Seguro a mão de Tobias. O vento aumenta quando nos aproximamos da beirada da porta do vagão, como uma mão empurrando-me para trás, para a segurança.
Mesmo assim, nos lançamos em direção à escuridão e aterrissamos com força. O impacto faz meu ombro ferido doer. Mordo o lábio para evitar gritar e procuro meu irmão.
– Você está bem? – pergunto, ao encontrá-lo sentado na grama a alguns metros de mim, esfregando o joelho.
Ele assente. Ouço-o fungar, como se estivesse tentando conter as lágrimas, e sou obrigada a desviar os olhos para não vê-lo chorar.
Aterrissamos na grama perto da cerca, a vários metros da estrada gasta pela qual viajam os caminhões da Amizade quando trazem comida para a cidade, e longe do portão que permite que eles saiam. O portão está tran- cado, prendendo-nos do lado de dentro. A cerca gigante barra nosso caminho, alta e flexível demais para ser esca- lada, e firme demais para ser derrubada.
– Deveria haver guardas da Audácia aqui – diz Marcus. – Onde eles estão?
– Provavelmente estavam sob o efeito da simulação – diz Tobias –, e agora estão...
Ele se cala por um instante.
– Sabe-se lá onde, fazendo sabe-se lá o quê.
Interrompemos a simulação. O peso do disco rígido no meu bolso de trás não me deixa esquecer. Mas não es- peramos para ver o que se passou depois. O que será que aconteceu com nossos amigos, nossos companheiros, nossos líderes, nossas facções? Não há como saber.
Tobias se aproxima de uma pequena caixa de metal do lado direito do portão e a abre, revelando um teclado.
– Espero que a Erudição não tenha pensado em trocar a senha – diz ele enquanto digita uma série de números. Ele para no oitavo número e a tranca do portão abre.
– Como você sabia a senha? – pergunta Caleb. Sua voz está carregada de emoção, tanta emoção que fico surpresa por ele não se engasgar.
– Trabalhei na sala de controle da Audácia, monitorando o sistema de segurança. Só modificamos as senhas duas vezes por ano – diz Tobias.
– Sorte a nossa – diz Caleb. Ele encara Tobias de maneira cautelosa.
– Não tem nada a ver com sorte – diz Tobias. – Eu só trabalhava lá porque queria ter certeza de que consegui- ria fugir um dia.
Sinto um calafrio. Ele fala em fugir como se acreditasse que nós estamos presos. Eu nunca havia pensado dessa maneira, o que agora parece uma tolice.
Caminhamos em um grupo pequeno, com Peter apertando seu braço sangrento contra o peito, o braço no qual atirei, e Marcus com a mão no ombro dele, mantendo-o estável. Caleb enxuga as bochechas toda hora e eu sei que está chorando, mas não sei como confortá-lo, nem por que não estou chorando também. Em vez de chorar, assumo a liderança do grupo, com Tobias andando silenciosamente ao meu lado, e, embora não esteja tocando em mim, ele me dá apoio.
O primeiro sinal de que estamos nos aproximando da sede da Amizade são os pontinhos de luz que vemos. Depois, as luzes transformam-se em janelas acesas. Um amontoado de construções de madeira e vidro.
Para alcançá-las, precisamos atravessar um pomar. Meus pés afundam no solo e, sobre a minha cabeça, os galhos se entrelaçam, formando uma espécie de túnel. Há frutas escuras penduradas entre as folhas, prontas para cair. O cheiro pungente e doce de maçãs apodrecendo mistura-se ao odor da terra molhada. Ao nos aproximarmos, Marcus deixa o lado de Peter e assume a liderança do grupo.
– Sei para onde devemos ir – diz.
Ele nos guia, passando direto pelo primeiro edifício, em direção ao segundo, à esquerda. Todos os edifícios, exceto as estufas, são construídos com a mesma madeira escura, crua e áspera. Ouço risadas saindo de uma janela aberta. O contraste entre as risadas e a imobilidade fria dentro de mim é gritante.
Marcus abre uma das portas. A falta de segurança seria chocante, se não se tratasse da sede da Amizade. Eles cos- tumam ultrapassar o limite entre confiança e estupidez.
Nesse prédio, o único som que consigo ouvir é o ran- ger dos nossos sapatos contra o chão. Não ouço mais o choro de Caleb, mas ele já não estava mesmo fazendo muito barulho.
Marcus para em frente a uma sala espaçosa, onde Johanna Reyes, representante da Amizade, está sentada, olhando por uma janela. Eu a reconheço porque é difícil esquecer seu rosto, quer você o tenha visto uma ou mil ve- zes. Uma cicatriz se estende, em uma linha grossa, desde a parte imediatamente acima da sua sobrancelha direita até o lábio, cegando um dos olhos e fazendo com que ela ceceie ao falar. Só a ouvi falar uma vez, mas me lembro bem. Ela seria uma mulher linda, não fosse pela cicatriz.
– Graças a Deus! – exclama ela ao ver Marcus. Cami- nha em sua direção com os braços abertos. Mas, em vez de abraçá-lo, apenas toca seus ombros, como se lembrasse que os membros da Abnegação não gostam de contatos físicos desnecessários.
– Os outros membros do seu grupo chegaram há algumas horas, mas não sabiam ao certo se vocês haviam sobrevivido – conta ela. Está se referindo ao grupo da Abnegação que estava com meu pai e Marcus no esconderijo. Eu havia esquecido completamente de me preocupar com eles.
Ela volta sua atenção para o grupo atrás de Marcus. Primeiro para Tobias e Caleb, depois para mim e por último para Peter.
– Nossa – diz ela, olhando fixamente para o san- gue que encharca a camisa de Peter. – Vou chamar um médico. Posso permitir que vocês passem a noite aqui, mas amanhã a nossa comunidade terá que tomar uma decisão em conjunto. E... – ela olha para mim e para Tobias – ... eles provavelmente não ficarão muito felizes com a presença da Audácia em nosso complexo. Peço, é claro, que vocês entreguem quaisquer armas que possam estar carregando.
Pergunto-me, de repente, como ela pode ter tanta certeza de que sou da Audácia. Ainda estou usando uma camisa cinza. A camisa do meu pai.
De repente, o cheiro da camisa, de sabonete e suor, sobe e preenche meu nariz, preenche todo o meu corpo com a sua presença. Cerro os punhos com tanta força que minhas unhas ferem minhas mãos. Aqui não. Aqui não.
Tobias entrega sua arma, mas, quando levo a mão às costas para pegar a arma que estou escondendo, ele a segura e a afasta. Em seguida, entrelaça seus dedos nos meus, para disfarçar o que fez.
Sei que é uma boa ideia manter uma das nossas ar- mas. Mas, mesmo assim, seria um alívio entregá-la.
– Meu nome é Johanna Reyes – apresenta-se ela, aper- tando a minha mão e depois a de Tobias. Um cumprimento da Audácia. Seu conhecimento dos costumes de outras facções é impressionante. Sempre me esqueço do quão atenciosas as pessoas da Amizade são, até que as encontro.
– Este é To... – Marcus começa a dizer, mas Tobias o interrompe:
– Meu nome é Quatro – diz ele. – Estes são Tris, Caleb e Peter.
Até alguns dias atrás, entre os integrantes da Audácia, “Tobias” era um nome que apenas eu conhecia; um pedaço dele que ele havia me dado de presente. Fora da sede da Audácia, lembro-me do motivo que o levou a esconder esse nome do mundo. O nome representa uma ligação com Marcus.
– Sejam bem-vindos ao complexo da Amizade. – Os olhos de Johanna fixam-se em meu rosto, e ela dá um sorriso torto. – Por favor, permitam que nós cuidemos de vocês.
E nós permitimos. Uma enfermeira da Amizade me oferece uma pomada desenvolvida pela Erudição a fim de acelerar a cicatrização para passar no ombro, depois leva Peter à ala hospitalar para tratar do braço. Johanna nos leva até o refeitório, onde encontramos alguns dos membros da Abnegação que estavam no abrigo com Caleb e meu pai. Susan está lá, junto com alguns dos nossos antigos vizinhos, em fileiras de mesas de madeira que se estendem por todo o salão. Eles nos cumprimentam, especialmente a Marcus, com lágrimas contidas e sorrisos reprimidos.
Agarro-me ao braço de Tobias. Curvo-me sob o peso dos membros da facção dos meus pais, das suas vidas e das suas lágrimas.
Um dos membros da Abnegação coloca um copo de líquido fumegante sob meu nariz e diz:
– Beba isto. Ajudará você a dormir, assim como ajudou alguns dos outros aqui. Sem sonhos.
O líquido tem um tom vermelho rosado, da cor de morangos. Agarro o copo e bebo rapidamente. Por alguns se- gundos, o calor do líquido faz com que eu me sinta como se ainda houvesse algo dentro de mim. À medida que tomo as últimas gotas do copo, sinto o corpo relaxar. Alguém me guia por um corredor, até um quarto com uma cama. E isso é tudo.

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